terça-feira, 2 de outubro de 2012


ONDE ESTÃO OS JOVENS?

Frei José Alves de Melo Neto, OSJ

“A cultura de massa dá forma à promoção dos valores juvenis e assimila uma parte das experiências adolescentes. Sua máxima é “sejam belos, sejam amorosos, sejam jovens”. Historicamente, ele acelera o vir-a-ser, ele mesmo acelerado de uma civilização. Sociologicamente, ela contribui para o rejuvenescimento da sociedade. Antropologicamente, ela prolonga a infância e a juventude junto ao adulto. Metafísicamente, ela é um protesto ilimitado contra o mal irremediável da velhice.” (Edgar Morin)

            Diante de tantos desafios, convites, atividades que propomos e com a constatação do esvaziamento de nossos grupos aos jovens, além das inúmeras respostas negativas que recebemos, constantemente nos perguntamos: Onde estão os jovens? Ou ainda: o que precisamos fazer para compreender as novas juventudes? Essas são questões que em certos momentos podem nos provocar certo desânimo.
            Ao se fazer essas interrogações e, em seguida, buscar soluções a partir de reflexão e com planejamento, já seria uma boa dica para onde deveríamos concentrar nossos esforços.
            Porém, isso não é tão simples como nos parece, haja visto que esses lugares, mudam constantemente, assim como mudam também as preferências juvenis. No entender do sociólogo Bauman (2001), a atualidade é um tempo marcado pela flexibilidade, fluidez e maleabilidade que provocam a fragilização das relações. Além disso, esse processo de liquefação leva a dissolução das instituições – família, estado, relações de trabalho, escola, etc – que na modernidade eram consideradas bases para unificação entre as pessoas.  A consequência disso é o surgimento acelerado de transformações sociais, nas quais se dissolvem os laços afetivos que, por sua vez, leva a um processo de individuação e subjetividade. E disso os jovens não são isentos!
            O que muitas vezes dificulta a nossa ação pastoral é a fato que “procuramos” os jovens da mesma forma que anos atrás, esquecendo, portanto que os mesmo são as primeiras “vítimas” e, ao mesmo tempo, protagonistas dessa sociedade líquida.
            Outro ponto que devemos levar em conta em nosso trabalho pastoral é a realidade de “nomadismo”. Esse é um dos elementos que sobressaem na caracterização do perfil das juventudes na contemporaneidade, ou seja, a sua condição de mobilidade. Essa palavra pode ser entendida em seu sentido literal (deslocamento espacial e geográfico ou mesmo “des-centramento, des-espacialização), como também o significado se amplia a uma mobilidade temporal (viver tempos de passagem, alternância momentânea, simultaneidades) ou ainda, supor a existência de um nomadismo de percepção (absorver fluxos, filtrar, aparar, assimilar, equacionar ou inúmeros “chocs” (Benjamin, 1989, pp 109-113). Todos esses fatores resultam de uma vida cotidiana tensa e intensa, permeada pela relação com a cidade e conectada com as velhas e novas mídias.
            É interessante observar que os jovens inseridos em outros lugares, que não nas grande cidades, também experimentam essa mobilidade temporal e espacial, propiciada, por exemplo, pelo contato com a televisão ou internet. A imersão no contexto das variadas mídias permite que o distante se torne próximo e seja incluído em seu cotidiano doméstico e familiar. A informação passa ser apropriada quase em tempo real, fazendo com que haja entrelaçamento de papéis e funções entre os produtores e usuários, os quais vivenciam de forma permanente os ambientes de migração digital (Vilches, 2003)
            Com tudo isso, podemos constatar que encontraremos os jovens nas mais diversas MÍDIAS SOCIAIS. O grande problema é que não desenvolvemos uma linguagem apropriada para lidar com esses novos ambientes e, por isso, temos imensas dificuldades em adentrar no espaço e na vida dos jovens.

Lugares onde podemos encontrar/educar os jovens?
            Não podemos descartar nossos grupos – embora muitos com estruturas e pensamentos arcaicos – como espaços autênticos de educação e presença edificante das juventudes. São ambientes privilegiados para acompanhar, orientar e trabalhar com os jovens. No entanto, os grupos não devem e não podem constituir-se em lugares aparte, ou seja, retirando dos outros espaços. Antes é função dos grupos oferecer um duplo movimento de distanciamento e de inserção das juventudes no mundo e na sociedade. No momento em que estão sob a influência direta da pastoral, os jovens podem afastar-se de outros espaços de vida para submetê-los a uma reflexão crítica à luz da fé (distância). E depois ao voltarem aos seus cotidianos poderão encarar os problemas e alegrias da vida com um novo ânimo e nova clareza (inserção).
            Dentro de vários espaços que poderíamos citar, quero destacar três (além das mídias sociais):
1.    Família: A família exerce influência benéfica e maléfica, oscila entre os extremos de um desastre total e um paraíso terrestre. Misturam-se doses diferenciadas de elementos construtores da personalidade do jovem e fatores patogênicos. Essass medida que diferencia as famílias permitem juízos mais positivos ou negativos. (Libânio, 2004).
Os nossos trabalhos pastorais esbarram fortemente nessa problemática. Nos grupos de jovens e nas orientações pessoais, debatem-se frequentemente tais dificuldades, uma vez que a situação familiar ultrapassa o nível pessoal e interpessoal. Constitui-se aqui uma questão cultural que envolvem os laços familiares.
2.    Escola-Trabalho: Queremos encontrar jovens? É só irmos à escola, afinal de contas, os jovens estudam! E nesse sentido, existem duas forças que exercem poder de coerção junto às juventudes: o trabalho e o estudo. Esses dois compromissos conseguem arrancar os jovens da comodidade de suas camas, fazê-los enfrentar frio ou calor, coloca-los em trânsitos horríveis e impor-lhes cansaços acumulados. Impressiona ver os jovens se movimentando em busca de trabalho e de estudo.
As nossas estruturas eclesiais que até pouco tempo conseguiam movimentar os juventudes tanto quanto as estruturas citadas e, assim exerciam seu poder coercitivo. Com a aparente liberdade que os jovens adquiriram na atualidade, a religião buscou atrair essa parcela da sociedade por outros meios. Infelizmente não são propostas motivadoras e, por vezes, distantes das realidades juvenis.
Por isso, é inegável a força coativa da escola. Ela exercer um controle social pela obrigação da frequência. Liga o êxito com a presença física. Por exemplo: existe a figura da reprovação por ausência, mesmo que o aluno demonstre ter apreendido até melhor que os colegas que frequentam assiduamente às aulas. Tal lógica não visa a garantia do aprendizado, já que este poderia ser assegurado de outra maneira. Muitos analistas suspeitam de uma vontade social de manter os jovens alheios à vida adulta e sob a guarda vigilante de adultos. Sendo assim, não podemos descartar de forma nenhuma a escola como um espeço privilegiado de jovens.
3.    Diversos grupos ou tribos juvenis (urbanas): Estamos acostumados a ver jovens “normais” em nossas comunidades e/ou cidades. O máximo do diferente é alguém com um corte de cabelo não comum, ou com uma calça jeans toda rasgada, ou ainda, jovens com roupa de cor exótica e cheios de correntes, pulseiras, botons, anéis etc. Isso não parece preocupar. No máximo, causa espanto ou é motivo de gozação. Nos grandes centros urbanos (e o mundo se urbaniza cada vez mais), o diferente já se organiza, tem normas, leis, códigos, adeptos... Este fenômeno da juventude moderna já chegou até nós. É importante que conheçamos as razões de tal fenômeno para sabermos agir diante dele. E o nosso agir é pensar seriamente como se aproximar, aproximando-se cativar, e depois acolher esses jovens, dentro de nossa estrutura muitas vezes moralista e engessada.

Portanto, precisamos pensar seriamente como tornar a nossa pastoral mais eficaz no ponto de vista de atingir os jovens a partir de sua realidade e não cair na tentação de achar que temos que trazer os jovens para dentro dos nossos “muros”. Só poderemos avançar pastoralmente quando verdadeiramente aceitarmos que a nossa pastoral é extra-eclesia, portanto, fora dos muros da Igreja, e reconhecendo os lugares onde a juventude está, como lugares autênticos de Evangelização, afinal Jesus passava por todos os lugares e onde ele passava “Ele fazia bem todas as coisas” (Mc 7,37).

Referências Bibliográficas

BENJAMIN, Walter. Walter Benjamin: Obras escolhidas I: magia e técnica, arte e politica. São Paulo: Brasiliense, 1985.
BORELLI, S. H. S.; ROCHA, R. M.; OLIVEIRA, R. C. A.; Jovens na Cena Metropolitana: Percepções, narrativas e modos de comunicação. São Paulo: Paulinas, 2009.
LIBÂNIO, J.B., Jovens em tempo de pós-modernidade: considerações socioculturais e pastorais. São Paulo: Loyola, 2004.
VILCHES, Lorenzo. Migração digital. São Paulo: Loyola, 2003

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