sexta-feira, 20 de maio de 2011

Pentecostes: Celebrar a ousadia do Evangelho

Para entendermos o sentido da Festa de Pentecostes, precisamos primeiro lançar um olhar sobre a Palavra de Deus, de maneira especial, a primeira leitura e o Evangelho do dia da celebração.
Cena do Pentecostes: Maria com os
discípulos no Cenáculo
A Primeira leitura é tirada do livro dos Atos dos Apóstolos (At 2,1-11), e aqui é narrada a cena de Pentecostes (que quer dizer 50 dias após a ressurreição) remontando o primeiro pentecostes celebrado pelo povo de Israel no deserto (Ex 19,16-20). Em um primeiro momento a descida do Espírito Santo sobre os discípulos como dom, reforça o cumprimento da promessa de Jesus: “Eis que enviarei sobre vós o que meu Pai prometeu...” (Lc 24, 49a). Num segundo momento quer mostrar a tendência das nações a uma unidade. Se no pentecostes vivido por Israel no AT, o Deus falou do meio do fogo, mas eles não se aproximaram por medo, agora o fogo de Deus que é o Espírito Santo, dá força àqueles que pareciam não ter, enche de coragem os discípulos para que eles possam anunciar e portanto serem os iniciadores de um novo ciclo, agora sem a presença de Jesus, mas com a presença do Espírito que é a plenificação do amor do Pai e do Filho. Dessa forma acontece o batismo no Espírito anunciado por João Batista (Lc 3,16). As pequenas chamas descritas na leitura são colocadas em relação ao dom das línguas, demonstrando que embora muitas nacionalidades ali presentes, cada um falando em sua própria língua, eles sem entendiam perfeitamente. Dessa forma, através da força do Espírito que unifica todas as nações, é possível construir uma nova unidade. Se em Babel (Gn 11,1-9) a unidade estava perdida e ninguém se entendia, o Espírito vem restaurar a unidade e anunciar a missão da Igreja enquanto Igreja universal.

No evangelho (Jo 20,19-23) os discípulos se encontram trancados por medo dos judeus, afinal se fizeram isso com o Mestre Jesus, o que poderia acontecer com eles? O medo dos discípulos deixa claro que eles ainda não tinham entendido a missão de Jesus. Nesse contexto de medo, Jesus entra e “sopra” sobre eles. Esse sopro(hebraico) ou hálito(grego), quer simbolizar a nova criação. Da mesma forma que o Criador soprou para dar vida à humanidade, Jesus, o novo Adão sopra sobre seus discípulos transformando o medo deles em coragem, para que assim, se tornem missionários. Fortificados pelo Espírito, os discípulos agora são portadores da mesma salvação que Jesus realizou na paixão e que se concretiza no perdão dos pecados e no dom do Espírito.
O Pentecostes para os discípulos foi a mola propulsora que os fez vencer o medo dos judeus e sair pregando o evangelho sem temor. A partir desse dom gracioso de Deus, cada um de nós também é chamado, primeiramente através do nosso batismo e depois confirmado pela sacramento da confirmação a sermos verdadeiros discípulos e mensageiros da boa nova. Somos chamados a vencer os nossos medos, romper as barreiras que nos impedem de mostrar que o amor do Pai é infinito.
Viver o Pentecostes hoje é colocar nossos dons à serviço como pede São Paulo, favorecendo portanto a unidade, a unidade que só é capaz pela força do Espírito. È mostrar com a própria vida, pregando na nossa própria língua, melhor ainda pregamos no nosso ambiente, fazendo acontecer o reino onde nós estamos. Aos discípulos foi pedido a testemunhar com a própria vida e eles radicalmente levaram isso a termo, até as últimas conseqüências. E a pergunta que cabe a nós é: Como estamos vivendo hoje o nosso Pentecostes?
Celebrar o Pentecostes é celebrar a ousadia do Evangelho... Celebrar Pentecostes é celebrar o amor de Deus que se revela a cada dia.
Portanto, peçamos todos os dias como o salmista: “Enviai o vosso espírito Senhor, e da terra toda face renovai”

Frei José Alves de Melo Neto, OSJ
frei_neto85@yahoo.com.br