terça-feira, 2 de outubro de 2012


O PROJETO DE VIDA DE SÃO JOSÉ MARELLO

            Acreditar que a vida é uma grande construção, feita passo a passo, com uma meta fixa, foi o que orientou a vida de São José Marello.
            Desde sempre, ele projetou sua vida acreditando que seus atos no presente, teriam consequências no futuro. Marello foi um homem do tempo presente, ou seja, o seu projeto de vida passava pela necessidade de viver bem o hoje, para que o amanhã pudesse ser frutuoso.
            Se formos pesquisar na vida de São José Marello, não encontraremos um projeto escrito, a não ser na sua volta ao seminário, quando esboçou uma regra de vida que seguiu depois de um período de experiências e algumas frustrações. O seu projeto de vida estava fundamentado em uma vontade firme de fazer sempre a vontade de Deus em sua vida. Isso fica claro quando ele diz a um de seus amigos: Quando, meu caro amigo, quando é que vamos começar de verdade? (...) em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, agora mesmo” (Carta 24) E sobre a atitude firme de recomeçar sempre ele continua: “Nunc Coepi! Agora começo, diziam os nossos grandes mestres que viveram antes de nós. Repitamo-lo também nós diante de Deus, com sinceridade e firmeza (Carta 36).
            Outro ponto importante na caminhada de São José Marello é o fato dele ser uma pessoa focada em seus propósitos. Já é bem famoso e conhecido por nós o seu pensamento quando diz: “Quando a meta é fixa, abala-se o mundo e o céu venha abaixo, é preciso olhar para ela, sempre para ela” (Carta 10). Assim ele ensina-nos que o fato de temos claro aquilo que queremos e perseguimos como meta de vida, nos ajuda a termos a nossa história na mão, afinal, quando não sabemos onde queremos chegar, qualquer vento pode nos levar para qualquer lugar.
            O fato de termos uma meta fixa em nossa vida não nos exime do fato de revermos sempre os caminhos com os quais chegaremos ao nosso objetivo. O Marello, com certeza teve que rever muitas vezes o seu projeto de vida, haja vista o fato que já mencionamos dele ter saído do seminário, e nesse período, o mesmo experimentar as incertezas que fazem parte também do nosso projeto de vida. José Marello deixou a vida de seminário e tentou ser um comerciante como seu pai, pensou em ser jornalista, ou até mesmo se engajar politicamente. Mas mesmo que às vezes os nosso projetos de vida sofram com as incertezas, o projeto de Deus para nossa vida é sempre claro, e foi isso que aconteceu com o Marello, por isso que ele nos exorta: “Precisamos ter paciência conosco mesmo”.
            Sendo assim, percebemos claramente na vida de São José Marello uma abertura para a ação de Deus. Ele nos diz: “Conformidade total com a vontade de Deus: eis o grande meio para progredir no caminho da perfeição; mas, por sua vez, esse meio torna-se o fim (em) relação aos meios que devemos utilizar para obtê-la”. (Carta 52). E Ele continua: “Acima de tudo considera sempre que tu estás fazendo a vontade de Deus, alinhando a proa da tua embarcação para onde aponta o capitão do leme” (Carta 83).
            Olhando rapidamente a vida de São José Marello vamos perceber que seu projeto de vida continua, e como diz uma música “está vivo entre nós”, uma vez que sua obra continua na pessoa de cada Oblato de São José, seus filhos espirituais, mas também em cada jovem josefino-marelliano, que se coloca numa trajetória de vida onde ele pode contemplar em seu projeto de vida algo que o próprio Marello vislumbrou.
            Portanto nos coloquemos na Escola do Marello, como alunos aplicados que querem viver a mesma experiência de felicidade que ele próprio viveu, para que assim nós possamos dizer como ele: “Saber coordenar todos os nossos pensamentos, todos os nossos afetos, todas as nossas energias numa ideia fixa: viver nessa ideia, apaixonarmo-nos por ela... (Carta 9).
            Que São José Marello nos ajude e seja nosso exemplo para que nos coloquemos a perseguir a nossa meta, que no fim das contas é sempre nossa felicidade.
            São José Marello, rogai por nós e iluminai a juventude!

Frei José Alves de Melo Neto, OSJ

ONDE ESTÃO OS JOVENS?

Frei José Alves de Melo Neto, OSJ

“A cultura de massa dá forma à promoção dos valores juvenis e assimila uma parte das experiências adolescentes. Sua máxima é “sejam belos, sejam amorosos, sejam jovens”. Historicamente, ele acelera o vir-a-ser, ele mesmo acelerado de uma civilização. Sociologicamente, ela contribui para o rejuvenescimento da sociedade. Antropologicamente, ela prolonga a infância e a juventude junto ao adulto. Metafísicamente, ela é um protesto ilimitado contra o mal irremediável da velhice.” (Edgar Morin)

            Diante de tantos desafios, convites, atividades que propomos e com a constatação do esvaziamento de nossos grupos aos jovens, além das inúmeras respostas negativas que recebemos, constantemente nos perguntamos: Onde estão os jovens? Ou ainda: o que precisamos fazer para compreender as novas juventudes? Essas são questões que em certos momentos podem nos provocar certo desânimo.
            Ao se fazer essas interrogações e, em seguida, buscar soluções a partir de reflexão e com planejamento, já seria uma boa dica para onde deveríamos concentrar nossos esforços.
            Porém, isso não é tão simples como nos parece, haja visto que esses lugares, mudam constantemente, assim como mudam também as preferências juvenis. No entender do sociólogo Bauman (2001), a atualidade é um tempo marcado pela flexibilidade, fluidez e maleabilidade que provocam a fragilização das relações. Além disso, esse processo de liquefação leva a dissolução das instituições – família, estado, relações de trabalho, escola, etc – que na modernidade eram consideradas bases para unificação entre as pessoas.  A consequência disso é o surgimento acelerado de transformações sociais, nas quais se dissolvem os laços afetivos que, por sua vez, leva a um processo de individuação e subjetividade. E disso os jovens não são isentos!
            O que muitas vezes dificulta a nossa ação pastoral é a fato que “procuramos” os jovens da mesma forma que anos atrás, esquecendo, portanto que os mesmo são as primeiras “vítimas” e, ao mesmo tempo, protagonistas dessa sociedade líquida.
            Outro ponto que devemos levar em conta em nosso trabalho pastoral é a realidade de “nomadismo”. Esse é um dos elementos que sobressaem na caracterização do perfil das juventudes na contemporaneidade, ou seja, a sua condição de mobilidade. Essa palavra pode ser entendida em seu sentido literal (deslocamento espacial e geográfico ou mesmo “des-centramento, des-espacialização), como também o significado se amplia a uma mobilidade temporal (viver tempos de passagem, alternância momentânea, simultaneidades) ou ainda, supor a existência de um nomadismo de percepção (absorver fluxos, filtrar, aparar, assimilar, equacionar ou inúmeros “chocs” (Benjamin, 1989, pp 109-113). Todos esses fatores resultam de uma vida cotidiana tensa e intensa, permeada pela relação com a cidade e conectada com as velhas e novas mídias.
            É interessante observar que os jovens inseridos em outros lugares, que não nas grande cidades, também experimentam essa mobilidade temporal e espacial, propiciada, por exemplo, pelo contato com a televisão ou internet. A imersão no contexto das variadas mídias permite que o distante se torne próximo e seja incluído em seu cotidiano doméstico e familiar. A informação passa ser apropriada quase em tempo real, fazendo com que haja entrelaçamento de papéis e funções entre os produtores e usuários, os quais vivenciam de forma permanente os ambientes de migração digital (Vilches, 2003)
            Com tudo isso, podemos constatar que encontraremos os jovens nas mais diversas MÍDIAS SOCIAIS. O grande problema é que não desenvolvemos uma linguagem apropriada para lidar com esses novos ambientes e, por isso, temos imensas dificuldades em adentrar no espaço e na vida dos jovens.

Lugares onde podemos encontrar/educar os jovens?
            Não podemos descartar nossos grupos – embora muitos com estruturas e pensamentos arcaicos – como espaços autênticos de educação e presença edificante das juventudes. São ambientes privilegiados para acompanhar, orientar e trabalhar com os jovens. No entanto, os grupos não devem e não podem constituir-se em lugares aparte, ou seja, retirando dos outros espaços. Antes é função dos grupos oferecer um duplo movimento de distanciamento e de inserção das juventudes no mundo e na sociedade. No momento em que estão sob a influência direta da pastoral, os jovens podem afastar-se de outros espaços de vida para submetê-los a uma reflexão crítica à luz da fé (distância). E depois ao voltarem aos seus cotidianos poderão encarar os problemas e alegrias da vida com um novo ânimo e nova clareza (inserção).
            Dentro de vários espaços que poderíamos citar, quero destacar três (além das mídias sociais):
1.    Família: A família exerce influência benéfica e maléfica, oscila entre os extremos de um desastre total e um paraíso terrestre. Misturam-se doses diferenciadas de elementos construtores da personalidade do jovem e fatores patogênicos. Essass medida que diferencia as famílias permitem juízos mais positivos ou negativos. (Libânio, 2004).
Os nossos trabalhos pastorais esbarram fortemente nessa problemática. Nos grupos de jovens e nas orientações pessoais, debatem-se frequentemente tais dificuldades, uma vez que a situação familiar ultrapassa o nível pessoal e interpessoal. Constitui-se aqui uma questão cultural que envolvem os laços familiares.
2.    Escola-Trabalho: Queremos encontrar jovens? É só irmos à escola, afinal de contas, os jovens estudam! E nesse sentido, existem duas forças que exercem poder de coerção junto às juventudes: o trabalho e o estudo. Esses dois compromissos conseguem arrancar os jovens da comodidade de suas camas, fazê-los enfrentar frio ou calor, coloca-los em trânsitos horríveis e impor-lhes cansaços acumulados. Impressiona ver os jovens se movimentando em busca de trabalho e de estudo.
As nossas estruturas eclesiais que até pouco tempo conseguiam movimentar os juventudes tanto quanto as estruturas citadas e, assim exerciam seu poder coercitivo. Com a aparente liberdade que os jovens adquiriram na atualidade, a religião buscou atrair essa parcela da sociedade por outros meios. Infelizmente não são propostas motivadoras e, por vezes, distantes das realidades juvenis.
Por isso, é inegável a força coativa da escola. Ela exercer um controle social pela obrigação da frequência. Liga o êxito com a presença física. Por exemplo: existe a figura da reprovação por ausência, mesmo que o aluno demonstre ter apreendido até melhor que os colegas que frequentam assiduamente às aulas. Tal lógica não visa a garantia do aprendizado, já que este poderia ser assegurado de outra maneira. Muitos analistas suspeitam de uma vontade social de manter os jovens alheios à vida adulta e sob a guarda vigilante de adultos. Sendo assim, não podemos descartar de forma nenhuma a escola como um espeço privilegiado de jovens.
3.    Diversos grupos ou tribos juvenis (urbanas): Estamos acostumados a ver jovens “normais” em nossas comunidades e/ou cidades. O máximo do diferente é alguém com um corte de cabelo não comum, ou com uma calça jeans toda rasgada, ou ainda, jovens com roupa de cor exótica e cheios de correntes, pulseiras, botons, anéis etc. Isso não parece preocupar. No máximo, causa espanto ou é motivo de gozação. Nos grandes centros urbanos (e o mundo se urbaniza cada vez mais), o diferente já se organiza, tem normas, leis, códigos, adeptos... Este fenômeno da juventude moderna já chegou até nós. É importante que conheçamos as razões de tal fenômeno para sabermos agir diante dele. E o nosso agir é pensar seriamente como se aproximar, aproximando-se cativar, e depois acolher esses jovens, dentro de nossa estrutura muitas vezes moralista e engessada.

Portanto, precisamos pensar seriamente como tornar a nossa pastoral mais eficaz no ponto de vista de atingir os jovens a partir de sua realidade e não cair na tentação de achar que temos que trazer os jovens para dentro dos nossos “muros”. Só poderemos avançar pastoralmente quando verdadeiramente aceitarmos que a nossa pastoral é extra-eclesia, portanto, fora dos muros da Igreja, e reconhecendo os lugares onde a juventude está, como lugares autênticos de Evangelização, afinal Jesus passava por todos os lugares e onde ele passava “Ele fazia bem todas as coisas” (Mc 7,37).

Referências Bibliográficas

BENJAMIN, Walter. Walter Benjamin: Obras escolhidas I: magia e técnica, arte e politica. São Paulo: Brasiliense, 1985.
BORELLI, S. H. S.; ROCHA, R. M.; OLIVEIRA, R. C. A.; Jovens na Cena Metropolitana: Percepções, narrativas e modos de comunicação. São Paulo: Paulinas, 2009.
LIBÂNIO, J.B., Jovens em tempo de pós-modernidade: considerações socioculturais e pastorais. São Paulo: Loyola, 2004.
VILCHES, Lorenzo. Migração digital. São Paulo: Loyola, 2003